sexta-feira, janeiro 30, 2009

Um estranho ser chamado Homem


Boas! Corteses fãs ou adulteráveis visitantes deste incomensurável blog, trago-vos hoje uma postagem que com certeza fará muita tinta correr na imprensa cor-de-rosa. Devo avisar desde já que a leitura deste texto não é aconselhável a cardíacos ou a quem simplesmente não aprecia sexo lésbico (visto que são uns totós!).
Bom, voltando à questão, aqui está mais uma modesta opinião do vosso comentador político, Hugo Pinto.


Há poucas coisas de que todo o ser humano se embaraça ou se sente desconfortável. É possível eu sentir vergonha de algumas coisas, mas existe sempre um outro ser humano que compense não tendo vergonha dessas mesmas coisas. No entanto, existe, de facto, uma situação que deixa TODOS os seres humanos, pelo menos os racionais, desconfortáveis.
E isso é? - Perguntam vocês.

Defecar, arriar, como lhe queiram chamar, fora da nossa própria casa.
É um facto. Nunca, como seres humanos, teremos a capacidade de nos abstrair de todos os preconceitos e libertarmo-nos num outro lado que não no nosso lar. É inegável. E é também inegável que cada um de nós faz todos os possíveis e impossíveis para evitar esta situação.
Aqui estamos nós, no nosso local de trabalho, acabados de descer da hora do almoço. Apetece-nos um doce e tiramos o chocolate branco do bolso que trouxemos às escondidas para dar uma trinquinha. Efeito supersónico. Sentimos os nossos abdominais anormalmente bem tonificados a apertarem, a apertarem e a apertarem. Começamos a sentir aquela vontadinha do “já se fazia…”, mas não, não estou em casa, aguento até chegar. É então que surgem os primeiros efeitos pós-aguentação (palavra técnica para o efeito), sentimos algo dentro de nós, lá por baixo, a gritar por liberdade, a esticar as mãos para fora das grades, a agitar-se ruidosamente dentro da sua cela.
Mas não podemos deixar sair a fera, temos de domar o monstro até ser o momento ideal, ou seja, quando estivermos em nossa casa. Somos obrigados a recatarmo-nos num canto, sozinhos, onde possamos soltar uma flatulência, silenciosa, mas que nos faz ter de abandonar rapidamente o local porque simplesmente não aguentamos o nosso próprio cheiro. Encolhemos a nossa cela o mais que podemos e começamos a reparar que estamos a andar de uma forma esquisita. A besta continua agitada dentro da sua prisão, parecendo chamar reforços para mandar a porta da masmorra abaixo. Depois de aguentarmos, aguentarmos, aguentarmos, a fera grita guturalmente, nós aguentamos, a fera bate com força na porta, nós aguentamos, a fera encontra a fechadura da porta e, chamando os seus reforços, começa a fazer força contra a fechadura que vai vacilando perante tamanha força. A fechadura começa por aguentar mas depressa se vê o primeiro sinal de fragilidade. A fechadura começa a abrir-se e, quando damos por nós, somos obrigados a superar todos os recordes estabelecidos pelos velocistas olímpicos e a deslocarmo-nos a mais de 270 quilómetros/hora, cometendo atropelamentos às pessoas que se cruzam connosco, querendo evitar olhares e sentindo gotas de suor (não provocadas pelo cansaço mas sim pelo esforço que estivemos a fazer os últimos dez minutos) a cair-nos pelas têmporas.
Ali está ela.
A porta do nosso cubículo da casa de banho. Nem sequer temos tempo para escolher aquela que está mais limpa, apenas a que está mais perto. Num acto de loucura desenfreada, quase arrancamos o cinto das calças e rasgamos a roupa interior. Fazemos o primeiro exercício físico puxado do dia, aguentando um tempo indeterminado na melhor posição de cócoras que conseguimos aguentar.
E finalmente acontece.
Como uma melodia que há séculos ansiava por ser tocada, sentimos a nossa fera a quebrar as correntes que a acorrentavam e a sair velozmente em liberdade, chapinhando nas águas turvas do pântano para onde cai. E nós enviamos ao mundo o nosso melhor suspiro de alívio, intimamente satisfeitos por obtermos um prazer tão glorificante com um gesto tão reles.
E de repente, damos por nós. Estamos numa casa-de-banho pública, com papéis por todo o chão, cheio de poças de líquidos que não conseguimos determinar bem o que são, portas desenhadas…um local simplesmente imundo. E, no fim, onde está ele?
O papel higiénico. Olhamos para todos os lados do nosso apertado cubículo, mas nem sinais dele. Simplesmente não há. Olhamos por debaixo da porta (porque as portas dos cubículos das casas-de-banho publicas continuam a insistir em não chegar até ao chão, deixando um espaço de dez centímetros, eu já medi, entre o fim da porta e o chão) e averiguamos se está mais alguém dentro do wc. Não. De calças na mão e rabo (para os que têm) imundo, deslocamo-nos ao cubículo mais próximo e roubamos o papel higiénico. Voltamos ao nosso cubículo (porque ninguém consegue começar esse acto num e acabar noutro) e limpamos o que temos a limpar. E aqui vai uma pergunta: Não neguem que é verdade, porque é: Porque é que sempre que limpamos o nosso rabo, mesmo que tenhamos acabado de fazer as fezes mais horripilantes de que tenhamos memória, temos de olhar para o papel higiénico com que acabámos de limpar o nosso traseiro e apreciar a nossa bela arte abstracta?! Porquê? Para ver se está limpo? Não podemos simplesmente estipular um número de vezes que possamos limpar e acaba aí a coisa?
Finalmente saímos do nosso cubículo e nem coragem temos para nos olharmos para o espelho. Como bons portugueses que somos, nem nos damos ao sacrifício de lavarmos as mãos naquela água gelada dos wc’s públicos.
E vivemos com esse peso na consciência…não o de não termos lavado as mãos mas sim o de termos feito o que fizemos…fazermos cocó num lavabo público.


AGRADECIMENTOS: Hoje tenho, perdoem-me os meus dedicados fãs, de agradecer esta postagem à minha querida mãezinha por me enviar sempre almoços tão deliciosos para o trabalho mas que, passado 30 minutos, já estão a fazer o efeito descrito neste texto. No entanto, um primor na cozinha, vos digo! Cumprimentos aos pais.

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